quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Poema de Estênio Machado: Remédio amargo!

Remédio amargo

Deu de Esperto,
A fila cortou.
Fez-se de doente,
Não foi paciente.
Desvio, viu!
II
O guarda parou,
Documento atrasado.
Uma onça entregou,
O guarda liberou.
Desvio, viu!
III
O voto comprou,
A vergonha acabou
Para quem vendeu,
Para quem negociou.
Desvio, viu!
IV
Eleito, um projeto apresentou,
Uma emenda liberou,
Para uma escola de madeira.
De concreto custou.
Desvio viu.
V
Desvio é quem sarna,
Pega ao se encostar
O remédio é amargo
Eles vão vomitar.
Ética, viu!

Estênio Machado

sábado, 8 de novembro de 2014

Zumbidos de Liberdade, de Estênio Machado

Zumbidos de Liberdade

São muitos os capitães
Do mato,
São muitos
Nos latifúndios e nas cidades.
Tua lágrima salgada, tuas veias encarnadas,
Não te livram de nada. 
O mando do teu corpo negro, amarelo,
te denuncia. 
Tua exclusão, aparência, teu credo e tua ideologia. 
Muitos zumbidos de resistência é preciso.
Um Zumbir de Liberdade.
Sem isso, viver não é preciso.

sábado, 11 de outubro de 2014

Lançamento de Reticências, em 25/10


Poema de Estênio Machado, sobre Fingi, o sapo fingidor


Não quero engolir sapo. 
Quero comer pipoca de letras saltitantes.
Quero o cheiro das páginas recheadas, de curvas e retas da codificação.
Quero compartilhar da memória da menina. 
Quero tecer com outras histórias. 
Quero fingir que sou menino.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014


Neste livro, resultado de um projeto de autoria na escola em que atuo, tive o prazer de poder incluir um conto sobre meu pai, nascido a partir de um texto que postei aqui!

Segue o conto:

A máquina de sonhos                                                         

- Foi nesta casa que passei toda minha infância e adolescência, filha ...Nasci aqui!
- Podemos entrar?
- Não, moram pessoas estranhas aí, não será possível entrar na casa, mas gostaria de levá-la para dentro de uma história interessante...
- Mais uma das histórias que seu pai contava pra você?
            Meu pai era um exímio contador de histórias, emendava uma na outra, interpretando, dramatizando e colorindo com pincéis de muita criatividade! Um artista que precisava se expressar e se fazer alegre para se fazer necessário e eterno para todos que passaram por aquela rua, por aquela casa, por aquela máquina de sonhos azul.
- Não, mocinha, vou contar uma história minha, sobre ele ...vou contar uma história do seu avô, meu pai! Um senhor muito maluquinho, acho que ele poderia ter sido o avô do Menino Maluquinho, sabe?
- Quero ouvir, mãe! Sou uma menina maluquinha, né?
- Sim! Totalmente maluquinha, o Ziraldo escreveu o Menino Maluquinho, pensando em crianças como você e seu avô! Tenho certeza!
- Conta logo, peraí... meu avô era criança?
- Claro que sim, ué!
            Estranho voltar a algo que parecia tão distante e ter a sensação de que foi ontem...Quando levei minha filha para ver a casa onde passei boa parte da minha vida, tive a sensação de voltar no tempo, de ter os joelhos ralados naquela calçada, de senti-los arder, de ouvir o som dos sapatos de meu pai chegando em casa... Não poderíamos entrar, a casa tinha sido vendida, mas não queria que o assunto acabasse ali, queria contar à minha filha algo sobre aquele espaço, aquele mundo que só pertencia a mim...
- Você sabe o que é uma máquina de sonhos?...
- Como assim?
- Era uma vez um homem com alma de menino e um pouco velho que tinha uma máquina azul de sonhos, ele a dirigia todo orgulhoso, pois era seu xodó!
Precisava mostrar a minha filha o quanto havia herdado dele...
- Não ligava muito para coisas, assim como você, adorava mesmo era a natureza, a terra, os animais e, principalmente, passarinhos! Ele dizia que eu era seu passarinho no ninho, aliás! Nas poesias que me escrevia em papéis de seda que embrulhavam os pães, sempre tinha passarinho e eu era um deles! Ele até desenhava...Então, embora fosse uma coisa, ele adorava a máquina azul de sonhos, pois ela era mágica!
- Seu pai fazia mágica, mãe?
- Não, exatamente ...seu avô tinha a máquina que era mágica...sem ela, não sei se conseguiria...Ele fazia um milhão de coisas com ela! Inclusive trabalhar! Ela era o que dava dinheiro para ele sustentar a casa, com todo o necessário para vivermos. Mas não era só a minha casa que ele supria com a máquina de sonhos que andava por toda a cidade. Ela fazia sobrar para dividir com os outros da rua e de outros lugares que ele conhecia!
Quando ele ia chegando com a máquina, não dava nem tempo de eu me aproximar para abraçá-lo, já havia uma dezena de crianças pedindo:
- Tio, leva para dar uma volta? Tio, me leva também? E eu, tio? Tio, tio, tio...
- Eu ficava olhando com muito ciúme e ele nem reparava, achava que eu fosse como ele ...capaz de dividir... Depois eu dizia que não achava certo aquilo todo dia, que os outros iam acabar quebrando tudo! E ele respondia: “Se quebrar, conserta!” E eu ficava com a cara amarrada, ele fingia que não via...mas, às vezes, dava uma baita bronca!     
         Como teve uma infância de muitas privações, meu pai achava que eu não podia reclamar, pois alguém com uma infância sem fome e com saúde tinha motivo de sobra para ser feliz.
- Lembro que com uma das crianças que entravam na máquina ele era especialmente atencioso e até comprava balas pra ela!RRRRaiva! Ele sabia o sabor preferido do pirralho e eu tinha certeza de que não sabia do que eu gostava! Quanta injustiça, meu Deus! Eu pensava... Quando eu via aquilo, ia como um foguete pra dentro e ficava de cara amarrada!
- Nossa, mãe, por que não falava pra ele?
- Nunca fui de falar, sabe filha, ficava guardando a meus sentimentos com um certo prazer...difícil explicar...mas ainda bem que algumas coisas eu não dizia, pois hoje morreria de arrependimentos...a palavra dita não se apaga!
            Meu pai tinha um carinho especial com os mais pobres e necessitados do que nós, era como se ele tentasse resolver algo difícil de sua infância, em que não era assistido. Fazia aos outros o que gostaria de que tivessem feito a ele.
- Seu avô não usava a máquina só para diversão, sempre que alguém passava mal, vinham pedir socorro, porque era um dos únicos da rua a possuir um veículo e o único a possuir um veículo que era mágico, uma máquina que virava ambulância e a todos socorria, nunca ouvi seu avô reclamar ou dizer que não dava para levar. Ele tinha prazer em ajudar, dava para ver no rosto dele, e daí eu não reclamava, ficava com vontade de ir junto e ajudar também.
Em uma noite, enfim, pude entender melhor um monte de coisas que seu avô fazia e a grandeza que ele tinha! Aprendi também que ele era encantado, profundo e por isso tinha o direito de ter uma máquina daquelas! Nunca mais vi uma igual... Era um presente dos céus para ele poder se divertir e fazer o que mais gostava: ajudar os outros, não importava se eram da família ou não. Ele amava todas as pessoas, principalmente, as que o deixavam falar e contar suas histórias e rir sozinho delas...
- Mas o que foi, mãe, que seu pai fez?
- Então... bateram palmas e gritaram o nome dele, a voz soou angustiada, doída...Fui atrás dele e vi que era a mãe daquele garoto de quem eu sentia ciúme...o das balas... Parecia que alguma coisa séria tinha acontecido, ela o tinha nos braços todo molinho, parecia sem vida... Naquela hora já senti um aperto bem fundo que eu não sabia o nome, mas hoje eu sei: arrependimento.
- O que ele tinha?
- Não sei o que era exatamente, mas fiquei sabendo pelos outros vizinhos que era incurável e que precisava de tratamento contínuo, acho que tinha algo a ver com falta de açúcar no sangue, pelo que me lembro... Daí, fui entendendo tudo!
Não me esqueço do ar de desespero dele ao ver aquela cena, pegou o menino dos braços da mãe com todo cuidado e disse que ia ficar tudo bem, colocou o menino na máquina azul de sonhos e saiu voando... Chegou bem mais tarde, com ar cansado, mas ainda assim perguntou se eu queria ouvir uma história... Respondi que sim, sem me importar com o cansaço dele, pois queria era estar e contar com ele, assim como os outros.
Neste dia, aprendi mais algumas lições que ele não precisou explicar: meu pai era um herói e, como tal, não podia cuidar só de mim, tinha responsabilidades com todos os que precisavam, gostassem ou não dele! Ajudava até os que o chamavam de mentiroso... pessoas limitadas que não entendiam as verdades inventadas dele! Aprendi o valor da caridade, do amor ao próximo, do desprendimento e do exemplo. Aprendi o porquê de dizerem que um exemplo vale mais do que mil palavras...
- Mãe, meu avô vivia pra lá e pra cá, não ficava com você nunca?
- Seu avô era como um pássaro que deixava o ninho, mas não se esquecia de voltar quando era preciso, sempre que podia me levava para alguns voos também, mas preso em casa não conseguia ficar! Não parava quieto, se quiséssemos estar com ele, precisávamos ir atrás, como todos daquela rua.
- Queria que ele estivesse vivo ainda, mãe ... Seria legal nós três juntos na máquina dos sonhos, eu ia pedir muitas histórias...
- Às vezes, sinto que ele volta para ver se está tudo bem no ninho... e tenho certeza de que você seria uma das tripulantes que ele levaria no compartimento da frente da máquina, pra ficar mais fácil de contar todas as histórias que moravam nele e as que brotavam sem parar! 

domingo, 7 de setembro de 2014

Vá que eu também voo!

Vim para casa como há 13 anos, sem ela, mas já não é como era...fica faltando alguém na areia, na água, na garupa...
Estranho... mas estou feliz, porque sei que está com outras pessoas que a fazem feliz e é preciso voar...
Então vá que eu também voo!!!

domingo, 10 de agosto de 2014

La vie en close - 2


Lembranças boas...por serem em maior número ou porque são as que queremos guardar?
Não poderia chamá-lo de você,
Também não saberia...
Com sua máquina azul de sonhos, transportava lamentos e alegrias,
Ajudava até quem não pedia...
Não olhava cor, origem ou classe social...
Se crianças, tudo oferecia,
Tirava de casa, da família e dividia!
Sua casa era onde podia rir, gargalhar, contar histórias,
Onde tivesse ouvintes, necessitados ou abastados, lá fazia sua estada!
Na maioria das vezes, eu, em meu egoísmo infantil, não entendia...
Mas acho que hoje, tanto tempo separados...
Percebo, entendo e reconheço: o senhor foi o melhor de nós!
Generosidade, desprendimento, caridade, solidariedade, resignação...
Muitos defeitos também, mas diluídos e diminutos diante de toda sua grandeza!

Acredito, pelo menos por hoje, que muito do senhor está em sua neta, a quem tento transmitir algumas das lições que deixou...

Acho mesmo que outro dia, ela pôde conhecê-lo em um sonho... em que havia uma máquina azul voadora encantada que era alegria da molecada de uma rua que já não há. Era pilotada por um senhor muito maluquinho que emendava uma história na outra e não parava de gargalhar...

Ainda sinto sua alegria e procuro copiá-la e não se preocupe, estamos todos bem!

Agradeço pela Poesia que se tornou em minha vida!
                       A
                        I




sexta-feira, 27 de junho de 2014

La vie en close

Quase 43

Parece muito, mas não é... Os sinais do rosto indicam muitas coisas já vividas, a alma remete-se a alguém e algum lugar que nem sou... O fruto é que da a medida exata de mim! 13 anos de vida...experiências concretas, intensas, inesquecíveis...

Mãe


"não fosse isso
 e era menos
 não fosse tanto
 e era quase"

Paulo Leminski

quarta-feira, 18 de junho de 2014

http://www.zagodoni.com.br/detalhes.asp?id=144&produto=2781#.U2fpQIFdVyU


Entrevista mãe e filha



Publicado dia 26/05/2014 às 14h42 por Sérgio Simka

Fingi, o sapo fingidor

A coluna de hoje traz uma linda entrevista com duas escritoras também lindas: Helena Lelli Riga e Eleandra Lelli, autoras do lindo livro infantil “Fingi, o sapo fingidor”.
Eleandra: Sou professora há 21 anos, de ensino fundamental, médio e superior. Mestre em Literatura Portuguesa pela USP e especialista em Literatura Brasileira, tenho artigos em livros e revistas especializadas. Adoro ler e sei o quanto é importante a leitura para a formação de um ser humano pleno, por isso procuro estimular a todos os alunos a lerem o máximo possível e de maneira ampla! Não poderia ser diferente com minha única filha! Bibliotecas e livrarias sempre fizeram parte do roteiro de passeios aos finais de semana. Li para ela e com ela durante seus primeiros seis anos, depois disso e até hoje adora ler, interpretar, descobrir e reinventar. Procuro ser uma mãe presente e participativa, uma professora dedicada, em todos os níveis em que atuo. Sou também consultora de Língua Portuguesa.
Helena: Tenho 13 anos, estou no 9° ano, faço balé clássico desde pequena e toco piano. Desde sempre gosto de ler e consequentemente tiro sempre boas notas em redação, e foi justamente escrevendo uma redação na escola que descobri o quanto sou apaixonada por essa arte.
  
Fale-nos sobre o livro.
  
Eleandra: Fingi, o sapo fingidor foi escrito pela Helena aos 7 anos, eu apenas orientei e ajudei a estruturar. A história retrata um pouco da vida de uma garotinha apaixonada por animais e que resolveu pegar girinos no parque para ver sua transformação... A narrativa ficou tão singela, tão doce e verdadeira que me apaixonei e quis publicar, porém à época, sem muito dinheiro, apenas pedi a um sobrinho, Thiago Lelli, para diagramar e imprimir vinte cópias. Estas cópias desapareceram, toda a família pediu, pois, além da história, as ilustrações eram desenhos infantis da própria Helena, alguns, inclusive,  permaneceram no livro agora publicado.
  
Helena: O livro retrata plenamente o meu amor pelos animais que já tive e o quanto a natureza (desde que eu sou pequena) me deixa maravilhada. O livro conta uma história parcialmente verídica de uma vivência inesquecível e extremamente afetiva, tanto com a minha família como com a natureza.

Qual foi a motivação ao escrevê-lo?

Eleandra: Depois de um passeio como tantos outros em que trouxemos um girino para casa, estávamos cansadas, mas a Helena quis escrever e sentou-se ao meu lado, dizendo que queria escrever e eu acompanhei...
  
Helena: Minha inspiração para a história foi o dia em que peguei o sapinho "Fingi" que me encantou com suas ações e principalmente com suas transformações. Tinha 7 anos quando escrevi, e escrevê-lo, foi uma experiência muito prazerosa ao lado da minha querida mãe.
Foi fácil encontrar uma editora que publicasse?
  
Eleandra: Foi fácil encontrar, mas os preços não eram acessíveis, pois, como se trata de um livro infantil, tinha ilustrações, o que torna mais cara a publicação. Então o projeto foi ficando na gaveta, até que no início deste ano, encontrei Adriano Zago, uma das pessoas mais generosas que já conheci, editor da Zagodoni Editora, que me deu um enorme incentivo para publicação de Fingi, o sapo fingidor, e como é também extremamente experiente e competente sugeriu-nos que déssemos um toque mais profissional e artístico à obra com ilustrações feitas por uma artista de primeira linha, que traduziu em imagens tudo o que o livro dizia, o nome dela é Inês Quintanilha e o resultado está aí: uma obra publicada e fazendo enorme sucesso entre os pequenos e os adultos, inclusive!
  
Para vocês, o que significa ser escritor?
Eleandra: Para mim, escrever é poder criar, é ver nascer algo que ainda não existia... mais ou menos como ser mãe.
  
Helena: Para mim, ser escritor é ousar e arriscar. É uma implacável busca de explicar o inexplicável, e de inventar e pensar o improvável. 
  
Como analisa a questão da leitura no país?
Eleandra: Como professora, percebo que há um enorme respeito pelos livros entre os alunos e professores, porém a leitura efetiva ainda é muito rara, as pessoas não têm paciência para ler como deveriam, uma vez que não criaram o hábito de leitura. A maior parte das pessoas não recebe o incentivo necessário desde a infância pela família e a escola parece que parou de estimular a leitura, de adotar bons e instigantes livros para encantar e desenvolver, faz apenas solicitar livros para provas e trabalhos, o que torna a leitura obrigação e não hábito.
Helena: Pelo que eu acompanho e pela observação das pessoas com quem convivo, vejo que são poucos os que lêem, apenas algumas exceções conhecem a literatura brasileira, acredito que seja falta de incentivo e falta de interesse pela cultura. Na minha opinião a tão poderosa mídia deveria expor mais sobre arte e cultura. E a escola se atrever a aguçar a curiosidade dos alunos em relação a coisas que só podem ser buscadas e conhecidas por meio da leitura.
Uma mensagem aos que desejam se lançar no mundo editorial.
  
Eleandra: Vale a pena! O retorno é maravilhoso, ver o livro pronto é mágico
Helena: É uma experiência marcante e honrosa! Vale a pena arriscar-se! Pela minha experiência, só trouxe benefícios!

Vocês receberam influência de alguém para se dedicar a escrever?
Eleandra: Meu pai era um exímio contador de histórias, inventava uma atrás da outra e eu adorava. Minha profissão também exige constante atualização e descoberta... ler e escrever são atividades diárias!   
Helena: Dos meus pais, mas principalmente da minha mãe. Que sempre me incentivou muito!
Outra pergunta que eu não fiz e que vocês gostariam de responder.
Eleandra: Se a pergunta fosse, o que mais promoveu alegria neste processo de publicação?, eu responderia: Ver minha filha mais feliz do que nunca e também como todos a nossa volta a incentivaram e torceram por nós!
Helena: Se eu pretendo continuar a escrever? E a resposta seria: Claro! Já tenho um livro infantojuvenil pronto e com novas ideias aflorando!


http://portalmauaeregiao.com.br/ver_coluna/224